Voltando no tempo, o termo Curadoria é um pouco parecido com a história do termo Taxonomia. Ambas foram importadas para o mundo corporativo com o amadurecimento das Tecnologias da Informação. A Taxonomia veio da Biologia para resolver a organização da informação e busca e a Curadoria, mais conhecida no universo das Artes, veio com a explosão de dados e informação na Web, para garimpar informação e encontrar conteúdo relevante.
Uma das maiores pragas informacionais da atualidade são as fake news e consequentemente, o consumo e compartilhamento de notícias SEM curadoria, sem critério, sem checagem e vindo de grupos de Whatsapp sem nenhuma credibilidade. As pessoas, desinformadas e sem opinião formada sobre política, são o alvo predileto de produtores de fake news.
Segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), em 2018 (último censo) “29% da população ainda possuíam dificuldades para interpretar e aplicar textos e realizar operações matemáticas simples no cotidiano.” O INAF classifica como analfabetos funcionais “os brasileiros que encontram barreiras em suas vidas como cidadãos, incluindo o mercado de trabalho”. Esses são os maiores propagadores de fake news.
A Curadoria Digital, que deveria ser uma disciplina do ensino fundamental e médio, é uma espécie de “guarda-chuva” para tratar dos processos envolvidos nas atividades de Curadoria. Mencionar “Informação Digital” ou “Curadoria Digital” é praticamente uma redundância, afinal, estamos falando de aplicações no mundo digital, que nada mais é que o MEIO no qual a curadoria será executada.
Quantos pais (eu incluída) não passaram pela situação de filhos tendo que fazer uma pesquisa sem que o professor explicasse o que são e quais as fontes que deveriam ser pesquisadas? Ah, digita a palavra no Google….e aí o resultado vem em forma de todo o lixo digital que o Google é capaz de produzir, sem referência de datas e fontes em uma primeira “batida de olhos”. Bom, mas isso é tema para outro artigo.
E qual a diferença entre curadoria de conteúdo e curadoria de informação?
De uma forma simples, a informação (toda ela considerada digital, neste contexto) é maior que o conteúdo. O Conteúdo será aquele que for relevante para o contexto.
Por exemplo, se estou buscando informação sobre a greve do Metrô de SP na próxima semana, não vai me interessar nenhuma informação sobre greves no Metrô. Aí entra a curadoria de conteúdo, selecionando a informação relevante de acordo com o contexto da pesquisa e a necessidade do cliente. Embora as greves sejam uma informação, naquele momento estou focada na greve da próxima semana.
Tanto a Informação quanto o Conteúdo possuem um ciclo de vida. Repare em um Portal de Notícias, tipo UOL ou Terra. As informações mais relevantes estão em letras garrafais e conforme o impacto de seu conteúdo elas vão se deslocando pelo Portal até deixar de ser notícia e passar a ser apenas pesquisável no banco de dados. A decisão de manter a notícia ou não em destaque, dependerá do impacto e da relevância para aqueles que acessam a notícia. Esse é o principal critério para determinar o ciclo de vida da informação e do conteúdo.
Podemos afirmar, que todos que buscam informação são de alguma forma curadores, mas desconhecem as metodologias, técnicas e ferramentas capazes de tornar este processo inteligente. Assim, não encontrarão conteúdo relevante e não conseguirão organizar suas informações para leituras, internalização, processamento e conhecimento. Aí chegamos na importância do Curador de Conteúdo, como profissão.
A imagem a seguir, exemplifica bem onde a curadoria de conteúdo atua: na intersecção entre o Conteúdo, Contexto e Cliente/Usuário.
Facetas como experiência do cliente/usuário/leitor
No diagrama conhecido como “User Experience Honeycomb”, Peter Moville aponta as 7 facetas primordiais para criar uma proposta de valor para o usuário. Diz Moville, em tradução livre: “um produto deve ser: usável, útil, desejável, valioso, fácil de encontrar, acessível e confiável”.
Entendendo nesse contexto, um produto como um serviço e aplicando o diagrama a qualquer conteúdo fruto de uma curadoria, é exatamente o que ela deve proporcionar a seu cliente. Diz também Peter Morville em seu livro Ambient Findability: “What We Find Changes Who We Become”: O que encontramos nos transforma.
1 comentário em “Curadoria Digital, Curadoria da Informação ou Curadoria de Conteúdo?”
Essas informações tem sido de muita ajuda para reforço dos meus conhecimentos e reflexões. Agradeço por compartilhar tanto conteúdo relevante para a área da Arquivologia entre outras áreas.